Resumo:
No
presente trabalho a autora analisa o ato de falar de alguém ou de um fato e de
emitir opinião de cunho pessoal. Para isso, aborda a fofoca, fenômeno universal
da comunicação humana e suas principais causas. Propõe questões para a
auto-avaliação sobre o tema e medidas profiláticas para o uso assistencial do
laringochacra e a prática da ortocomunicabilidade.
INTRODUÇÃO
Retidão. Os conscienciólogos têm acesso a um nível de
conhecimento mais abrangente ao estudarem a multidimensionalidade e, em
geral, sabem que a retidão pensênica é condição cada vez mais indispensável à
medida que se galga a escala evolutiva.
Comunicons. A Comunicons é a Intituição Conscienciocêntrica
(IC) que trata da ortocomunicabilidade em todas as suas formas. Em seu lançamento,
em agosto de 2005, seus integrantes pensaram em realizar uma campanha pela
lisura pensênica e verbal. Este artigo é um dos resultados desta proposta.
Objetivo. Este artigo analisa o quanto a fofoca ainda faz
parte do dia-a-dia das consciências, o que representa e quais as
possíveis repercussões desta no contexto multidimensional.
Medidas. A partir do estudo de suas causas e correlações, é
possível adotar medidas individuais para melhorar a interação grupal e
exercer a ortocomunicabilidade.
Convivialidade. O megadesafio do pré-serenão é viver
harmoniosamente suas relações intra e interconscienciais. Cada
consciência é única, e saber conviver com tantas diferenças requer abertismo,
entre muitos outros atributos. Respeitar diferenças é um processo de
auto-educação constante.
Socin. A sociedade intrafísica (socin) minimiza a
nocividade de um pensene ou de uma conversa anticosmoética como se não
tivessem maiores conseqüências, sem considerar o aspecto multidimensional.
Ortocomunicabilidade. A falta de autocrítica é agravada
pelo excesso de heterocrítica, e muitas relações ficam danificadas
devido à má comunicação. Estudar e divulgar o conceito de ortocomunicabilidade
é tarefa assistencial por parte de todos os que já pensam sobre isso.
ANÁLISE
Comunicabilidade. A comunicabilidade é o atributo
pelo qual ideias, sentimentos e energias são trans-mitidos entre consciências,
tornando possível a interação social e a integridade pensênica e verbal.
Definição. A Ortocomunicabilidade é a
expressão da boa comunicação, direta, reta, exata, da infor-mação cosmoética.
Sinonímia: expressão cosmoética; lisura pensênica; retidão nas
colocações.
Antonímia: afirmações preconceituosas; afirmações sem bases;
comunicação leviana; desconsideração verbal; falsidade; indiscrição
verbal.
Definição. A fofoca é o dito maldoso, o
mexerico, a afirmação não baseada em fatos concretos, a especulação, e
também o fato real que é comentado em segredo sobre outrem, às escondidas da
consciência alvo.
Sinonímia: alcovitagem; babado; bisbilhotice;
boato; difamação; dito; falatório; flacidez verbal; futrica; indiscrição;
lambança; maledicência; novidade; ociosidade pensênica.
Antonímia:
austeridade;
cosmoética verbal, discrição; ortocomunicabilidade;
reserva.
Meta. Os conscienciólogos têm a meta de assistir os
demais de forma cada vez mais eficaz e ininterrupta. Sabe-se, através do
enfoque multidimensional, que as consciências comunicam-se o tempo todo, de
modo pensênico, intra e extrafisicamente. Isto inclui o período do sono, os
devaneios e o cotidiano.
Comunicação. Analisar a
comunicabilidade no dia-a-dia é postura fundamental para quem deseja assistir
mais e melhor. A fala pode mostrar a realidade íntima e a qualidade pensênica,
que contribui para a formação da força presencial.
Estatística. O psiquiatra José Angelo Gaiarsa (1978) avaliou
estatística sobre o que se comunica: 20% do que se diz é conversa
funcional – pedidos, informações ou declarações ligadas a fatos. Os 80%
restantes seriam conversa fiada, que se subdividem em 40% de fofoca e 40% de
afirmação de preconceito.
Preconceito. Um preconceito é a opinião ou o conceito formado
antes de se ter os conhecimentos adequados. Pode ser opinião ou
sentimento desfavorável concebido de modo independente da experiência e da
razão, ou atitude condicionada, baseada em crenças e generalizações.
Associação. Embora seja comum a
associação fofoca-preconceito, nem toda fofoca origina-se de preconceito,
e nem toda idéia preconcebida é externalizada, tornando-se maledicência.
Participação. Segundo Vieira (2003, p. 1.037), “há conscins
incapazes de criar o boato, no entanto ajudam a circular todas as
calúnias verbais, diariamente, sem escrúpulos. Tal fofin (fofoca
intrafísica) compõe condição específica da conscin displicente”. Há os
que criam e os que propagam os boatos.
Finalidade. Em Comunicologia, ao se emitir uma opinião, é
preciso considerar: a intencionalidade do emissor, o teor do assunto, a
interação entre emissor-receptor, a resposta do receptor, a finalidade, as
conseqüências e, não menos importante, a interação entre as dimensões intra
e extrafísica.
Causas. A autora realizou um levantamento que indica razões
subjacentes à atividade de se falar a respeito da vida alheia.
Parecidas, no entanto com diferenças bem sutis, eis 10, ordenadas
alfabeticamente:
1. Aprovação grupal. Quando duas ou mais conscins
fazem fofoca, sentem a cumplicidade, a aceitação mútua e também o bem-estar por
serem aprovadas, contando algo que interesse aos outros e os divirta. Assim se
estabelece um senso de pertencer ao grupo, diminuindo o isolamento. Há uma
gratificação social e emocional ao sentir-se acolhida por um grupo, e as
mulheres são mais suscetíveis a isso (GAIARSA, 1978). Isto explica porque as
mulheres são mais afetadas.
2. Assédio. Outro aspecto que envolve a fofoca grupal é o de
que a plateia de ouvintes pode ser bem maior do que parece. Além do feedback
de aprovação e, muitas vezes, o riso das conscins, em geral há consciexes
aproveitando a energia liberada pelo emocionalismo causado pela notícia e
inspirando novas fofocas. O resultado pode ser uma injeção de energia no
autor da fofoca, para que o laringochacra mantenha-se em ação.
3. Carência. Através de conversa que agrade aos outros, é
possível à consciência obter alguma atenção, diminuindo sua carência
afetiva ou energética. Ao sentir-se aprovada, a auto-estima pode melho-rar,
mesmo que momentaneamente. Insegurança ou interesses espúrios também podem
levar a comentários dispensáveis ao grupo, visando a obtenção de compensação
psicológica.
4. Curiosidade.
As
pessoas em geral gostam de novidades, mesmo que irrelevantes. A fofoca é como um furo de reportagem: o autor sente-se “o
máximo, o esperto”. Ao contar uma curiosidade, a conscin sente bem-estar, como
se aquilo tivesse alguma utilidade, quando os interlocutores respondem com
aprovação.
5. Divertimento. A simples vontade de relaxar, aliada ao fato de que
a socin desconsidera a perniciosidade do “falar mal”, pode levar
a conscin a achar natural divertir-se dessa forma, emitindo opiniões
inconseqüentes só para passar o tempo. Algumas vezes, esse é o “bate-papo”
típico dos barzinhos, por exemplo. É difícil erradicar a fofoca do
planeta, no atual nível evolutivo. “É preciso saber conviver com
ela, pois sua função pode ser a de uma ‘catarse
light1’”, ou seja, pode-se ter a necessidade de descarregar,
desopilar as ideias, falar sobre determinado assunto, contar algo. Há de se
considerar que a “origem desta catarse light é a indisciplina do psicossoma”.
O maior desafio para a consciência, quanto à ortocomunicabilidade, é perceber,
no ato de uma conversa, a linha tênue que separa a simples observação sobre
outrem da fofoca em si.
6. Inveja. A consciência pode fazer fofoca ao sentir-se
diminuída perante a outra. A inveja é motivo bem comum que leva o
emissor a falar com desdém quando na realidade admira seu alvo. Nesse caso,
compara-se, sente-se inferiorizado e, como mecanismo de defesa, atém-se a algum
ponto fraco do outro.
7. Superioridade. Ao denegrir o outro, apontando
alguma suposta falha em sua conduta, a consciência está de fato afirmando o
quanto é boa, o quanto está certa, o quanto faria melhor. A maioria das fofocas
contém a comparação implícita de que “eu faria melhor”, “eu não
cairia nessa”, “eu sou mais esperto por perceber isso”, e a grande
satisfação é ver o grupo concordar. Nesse caso, a auto-imagem atinge um
momento de apogeu.
8. Tédio. Segundo Gaiarsa (1978),
referindo-se ao cotidiano da maioria das pessoas na socin, consi-dera que “quase
todos os trabalhos do mundo são repetitivos, exigindo pouca atenção”, e “mesmo
o papo furado é mais vivo e criativo do que o trabalho e a rotina”.
Segundo Gaiarsa, em uma rotina desinteressante, falar é “a mais alta
expressão de si”, na qual o indivíduo cria um “contexto de vivacidade
e criatividade”. Em outras palavras, uma das funções da fofoca é ser um
tapa-buraco que estimula as conscins entediadas, sem nada melhor
para fazer.
9. Válvula
de escape. Gaiarsa (1978) explica que: “O auditório interior de vozes
que comentam tudo o que acontece conosco e com os outros soma-se à plateia que
observa tudo o que fazemos”. A fofoca funciona na condição de válvula de
escape, fazendo a pressão dessa platéia interior escoar em direção a outro
sujeito que não os interlocutores.
10. Vampirizações energéticas. O uso
excessivo do laringochacra pode servir para vampirizações energéticas. A
conscin que sempre requisita atenção alheia, que necessita falar sobre
qualquer coisa, pode estar se alimentando disso. Caricatura disso são os “bobos
da corte”, os “macacos de auditório”. Nem sempre a questão é tão evidente: às
vezes, o indivíduo falante é realmente simpático, carismático e pode julgar-se
muito bem-intencionado. Não percebe o quanto está acostumado a esse tipo de
absorção energética.
Ouvinte. Até este ponto, foi analisada a fala de quem
expressa uma idéia. É imprescindível estudar também alguns aspectos do
receptor da mensagem e quais medidas profiláticas o ouvinte pode tomar. Saber
ouvir também é assistir.
Escolhas. Na condição de ouvinte, é importante considerar a
escolha dos próprios relacionamentos, descartando as amizades ociosas.
Segredos. Boa parte dos segredos que se contam têm a
finalidade de acumpliciar um terceiro para justificar uma atitude
questionável. O ideal é nem ouvir, utilizando este recurso: “se é segredo, nem
me conte”.
Tares. Quando o teor da conversa é negativo ou prejudicial
a alguém, a consciência mais lúcida pode aproveitar o momento para fazer
a tares. Para isso é preciso estar despojada da auto-imagem perante o grupo ou
de alguma necessidade de querer agradar, sendo conivente, por exemplo. Esta
ação torna o ouvinte eficaz “desmancha-rodas” de assediadores. A consciência
que se posiciona, manda seu recado: às vezes, um olhar basta para ela fazer-se
entender e mudar o teor da conversa.
CORRELAÇÕES
A construção da fofoca e a pensenidade
Morfopensene. Sabe-se que ao emitir um pensene, criam-se
morfopensenes afins. Esses têm vida útil própria, de acordo com a
intensidade da energia com que foram criados.
Psicosfera. Os morfopensenes afetam a psicosfera de quem os
criou bem como a da pessoa para quem são dirigidos.
Conseqüência. Na fofoca, o autor ignora momentaneamente os
próprios conhecimentos multidimen-sionais, o efeito do pensene que criou,
pressupondo que um comentário aparentemente inocente não trará grandes
conseqüências uma vez que, na sua concepção, o assunto morre ali.
Reforço. Se uma consciência está trabalhando sobre um trafar,
qualquer comentário ou pensene que o reforce
funcionará como dificultador de sua superação. E, de fato, é isto o que
geralmente acontece. Em terapia de família, é sabido que, quando um integrante
começa a melhorar, toda a família se desestrutura, podendo reagir
antagonicamente. Isso ocorre porque quando alguém supera um trafar, é preciso
haver a reciclagem pensênica de todos. Muitas vezes surge desconforto ao não
saber como lidar com o novo aspecto da pessoa. Reciclar exige esforço contínuo.
Neutralidade. Não existe pensene neutro. Ele
vai auxiliar ou atrapalhar. Segundo a Conscienciologia, a energia
consciencial nunca é neutra (VIEIRA, 1994).
Assédio. Em geral, a fofoca baseia-se em um pensene anticosmoético
focado em um trafar alheio. O autor não percebe
o quanto essa atividade é um chamariz para o assédio. O riso, sutilmente
disfarçado de bom humor, parece dissipar energias nocivas, mas pode ocorrer
justamente o contrário.
Epicentrismo. Se uma consciência está em posição de liderança e
faz fofoca, tem responsabilidade ainda maior, pois sua opinião tende a
ser respeitada pelo grupo. Essa posição poderá propagar as palavras do líder,
que funciona enquanto assediador em virtude da repercussão energética
negativa para os envolvidos.
A fofoca e a emissão de opiniões
Diferença sutil. A diferença entre emitir uma opinião sobre alguém e
fazer fofoca pode ser realmente sutil, porque às vezes a mesma frase,
dita com diferente intencionalidade, denota uma ou outra. O questionamento a
ser feito é se mesmo uma simples opinião já não causa repercussões no alvo.
Opiniões inocentes. A fofoca surge quando pensamos
que não vai fazer mal algum opinar enriquecendo a frase
com adjetivos, sarcasmos, comparações por ser esse fenômeno tão universal, a
consciência produtora de fofoca sente-se justificada ao pensar que todo
mundo age assim. Isso se chama manter o status quo, a repetição do
que se faz por aí e é aceito socialmente, principalmente ao se repetir a fala
anticosmoética de quem se admira. Há de se considerar que essa consciência
também comete erros e que seria falta de discernimento a repetição sem
autocrítica.
Identificação. Existe a tendência a não reproduzir a fofoca quando
há identificação com a situação falada, quando esta ocorreu com o
ouvinte. Quando se viveu um fato parecido, compreende-se melhor as ações dos
outros. Quando não há identificação com a situação ou se projeta nos outros
algo pessoal de que não se gosta, tende-se a ser severo no julgamento.
Críticas. A crítica dirigida a uma conscin ausente
quase nunca é construtiva. É conveniente estar atento ao criticar consciexes,
devido ao problema da evocação.
Casuística. Algumas vezes, é útil citar um caso específico.
Nessas situações, em geral é um exemplo que vai ajudar outra pessoa,
através de uma casuística. Nesse caso, a intenção é assistir.
A fofoca e a mentira
Mentira. Alguns autores em comunicação
afirmam que todas as pessoas mentem em algum nível. Grande parte das
mentiras é classificada como branda, com a função de não expor a real opinião,
que poderia ser ofensiva ao outro, e em geral seria se os falantes fossem
literais quanto ao que se passa nas próprias mentes. Dá-se a esse fenômeno o
nome de mentira branca ou social. Segundo os autores Allan e Barbara Pease
(2003), “... se disséssemos a verdade a todas as pessoas com as quais interagimos
na última semana, com as exatas palavras que passam por nossas cabeças,
seríamos considerados insuportáveis, provavelmente não teríamos
mais nenhum amigo e estaríamos desempregados”.
Vantagens. Omissões, exageros e deturpações da linguagem na
convivialidade são recursos utilizados rotineiramente. Segundo os mesmos
autores, mente-se para obter um ganho ou evitar uma dor, mas feliz-mente a
maioria sente algum desconforto ao mentir.
Relação. Muitas vezes os comentários que não são feitos para
não magoar o interlocutor são feitos para terceiros. A intenção real é
proteger a auto-imagem, e não desagradar. Assim, elogia-se na frente e
critica-se pelas costas. É comum abrir um bate-papo com a pergunta “o que você
achou do evento?” e aproveitar o momento para descarregar a malha pensênica
que não se teve a oportunidade de externar durante a ocorrência. Muitas pessoas
gostam de expressar as próprias opiniões, e mesmo os tímidos “soltam o verbo”
com alguém com quem tenham intimidade, falando aquilo que realmente pensam.
Inocuidade. Considerando-se a evitação da realização de um
comentário na frente de alguém pelo fato de não ser de bom-tom, ou
porque ele ou ela ficaria constrangido(a), pode-se concluir que não é inócuo
falar o mesmo para um terceiro. Se é inapropriado falar para a pessoa
interessada, falar para mais alguém possivelmente constituir-se-á em fofoca. Se
a pressuposição é de que a magoaria, o enfoque geralmente está no trafar
e, sendo assim, não terá utilidade para ninguém (exceto para os assediadores).
“A fofoca não serve para nada – porque nunca alcança a pessoa certa na hora
certa” (GAIARSA, 1978).
Tares. A tares é realização bem
diferente daquela abordada acima. A tares requer
intencionalidade limpa e vontade de assistir, em detrimento do prazer de
falar. A chave para a real diferenciação das atitudes é a análise profunda da
intencionalidade.
Omissões. A consciência falha no discernimento se não fala o
que deveria, seja por omissão deficitária ou por achar que está fazendo uma
omissão superavitária, quando na realidade omite algo que deveria ser dito por
preocupação com a auto-imagem. A tares é trabalhosa.
Sociosidade. A mentira branca é comum nos
grupos de indivíduos que não se preocupam em questionar a qualidade de suas
relações sociais. Ainda prevalecem a sociosidade, os bate-papos inúteis,
as bajulações e o excesso de mentiras sociais para evitar cotovelomas.
Conscienciólogos. Nesta análise, os
conscienciólogos já têm nível de conhecimento suficiente para ultrapassar
esse patamar de comunicação de grupo, seja através da constante autopesquisa
para evitar as simulações sociais ou através do diálogo franco, mesmo que
desagradável, para clarear mal-entendidos.
A fofoca e a perversão
Grau. A fofoca tem vários graus: emissão de opiniões,
mentiras e, em alto grau, é uma forma de perversão.
Perversão. Segundo a autora Marie-France Hirigoyen (2003), a
perversidade “não provém de uma perturbação psiquiátrica e sim
de uma fria racionalidade, combinada a uma incapacidade de considerar os outros
enquanto seres humanos”. Afirmar que a fofoca é uma forma de perversão pode
parecer exagero, considerando-se que muitos a praticam em algum grau. E
seria mesmo um exagero se a avaliação das relações fosse feita exclusivamente
sob a ótica intrafísica. Porém, na análise multidimensional, o enfoque muda
consideravelmente.
Ataque. A vítima de um ato perverso sente-se impotente para
se defender. Segundo Hyrigoyen (2003), tenta entender o
que se passa com ela, contudo não tem instrumentos para tal. A vítima da fofoca
também pode perceber que está sofrendo um ataque energético sem entender bem o
que ocorre. Desse modo, é possível ver a semelhança entre o ato explícito de
violência e o morfopensene de cunho negativo.
Conhecimento. O perverso acha que nunca será apanhado, e o
fofoqueiro fala tranqüilamente porque a maioria dos comentários não
chega ao conhecimento dos reais interessados. E quando chega, as conse-qüências
costumam ser nefastas: a pessoa objeto do comentário muitas vezes corta
relações ou elas não voltam a ser naturais. Mesmo que a situação vá a bom
termo, ainda assim pode resultar em interprisões. Nem por isso o injuriado deve
se sentir vítima ou cultivar mágoa. Relações são escolhas pessoais.
Difamações. Nesse grau, a maledicência visa acabar com a
reputação do outro. Mentiras deliberadas são calculadamente expostas
para pessoas-chave. Às vezes o autor da difamação sente-se justificado se ela
tem um fundo de verdade, mas ainda assim é um ato perverso.
Extrapolação. Uma pessoa comum pode extrapolar negativamente,
cometendo um ato espúrio. Recentemente tem-se falado sobre a problemática da
perversidade dos adolescentes quando em grupos, perseguindo colegas devido a
razões as mais fúteis. Felizmente algumas escolas estão buscando conscientizar
os alunos a esse respeito.
A fofoca e a sociedade
Gênero. A revista Veja publicou
matéria de Karina Pastore (2002) classificando a fofoca enquanto fenômeno
instintivo de preservação da espécie, segundo estudos do psicólogo americano Frank
McAndrew publicado na Journal of Applied Social Psychology. Essa
pesquisa realizada com 39 homens e 44 mulheres mostra que as mulheres são mais
fofoqueiras que os homens. Se o assunto for a respeito do sexo feminino, o
interesse é ainda maior. Pastore expõe que “essa avidez por ouvir e falar da
outra aumenta ainda mais quando o que se tem para contar versa sobre a
promiscuidade e a infidelidade da colega. ‘As mulheres usam este tipo de
informação para manipular a reputação das outras’, explica McAndrew. Do ponto
de vista evolucionário, nada mais lógico. A explicação do psicólogo: ao difamar
uma rival, ao espalhar que ela é infiel ao parceiro ou tem muitos amantes, o
que a mulher pretende, no fundo, é afastá-la dos machos provedores. [...] o
homem, ainda que pouco afeito à futricagem, é todo ouvidos quando o que se tem
a falar diz respeito à situação financeira e à habilidade sexual dos rivais”. Amigos.
O psicólogo avaliou também que “o amigo é o alvo preferencial da fofoca.
[...] tamanha curiosidade deve-se à consciência – ainda que inconsciente – de
que eles são nossos amigos hoje, mas amanhã podem deixar de ser. E aí... ‘Os
amigos são importantes para nós porque são aliados que nos ajudam’, disse
McAndrew. ‘Mas, porque sabem muito sobre nossa vida, eles podem nos prejudicar
muito se viram nossos inimigos’” (PASTORE, 2002).
Anticosmoética. Esse estudo pode mesmo ter algum fundamento quanto
aos assuntos preferidos em uma roda de fofocas, mas trata com
absurda naturalidade das ações anticosmoéticas enquanto resultantes de estado
instintivo, ancestral, perante o qual se é impotente, alimentando o lado
subumano da espécie, como se nada precisasse ser feito para alterar esse quadro
de competitividade.
Mídia. Gaiarsa (1978) faz a seguinte
analogia entre cérebro e mídia: “a rede de comunicação de dentro – o cérebro –
e sua imitação de fora – os circuitos do telefone, do rádio, da TV, dos
computadores”. A mídia tanto reflete a necessidade de falar da vida alheia,
quanto a estimula, devido ao enorme poder de influência sobre massas. A fofoca
é grande instrumento da censura e autocensura.
Diversidade. A vida intrafísica comporta ampla variedade de
expressões conscienciais, da mais rudi-mentar à mais evoluída e a mídia retrata
essa realidade. O conscienciólogo aproveita o que pode dessa fonte de
conhecimentos e inutilidades e procura assistir de acordo com o próprio nível
evolutivo e o dos outros.
A fofoca e a dupla evolutiva
Intimidade. Um tipo de comunicação particular oorre entre
duplas evolutivas. A convivência diária, o acoplamento energético e o
fato de conhecer o outro intimamente fazem com que muitos parceiros comentem
tudo entre si. Não entrando no mérito de que um alto grau de confiabilidade
mútua é positivo, vale o questionamento do que realmente um parceiro pode falar
para o outro quando o assunto diz respeito à vida alheia. Cada casal deve ter
discernimento para avaliar essa questão.
Resistências. Quando uma dupla evolutiva se desfaz, se a pessoa
sente-se rejeitada e resistente em desligar-se, pode cair no erro de intrometer-se
na vida do outro, que não lhe diz mais respeito. Algumas razões para esse
comportamento seriam:
1. Orgulho ferido. A conscin não se conforma e fica pedindo
explicações, que em geral já foram discutidas, sobre os motivos da
ruptura. Falar com terceiros não é a melhor forma de elaborar o que não ficou
bem.
2. Laços. A perda do contato com a energia
do outro, ao fim de uma relação, pode criar mal-estar, e falar do outro
é uma forma de alimentar esses laços.
3. Alvo. Fazer os outros saberem de coisas
que o(a) parceiro(a) não gostaria de ver expostas pode ser uma tentativa
de atingi-lo(a).
Terapia. Se há necessidade de expor uma relação que envolve
terceiros, o melhor momento é durante a terapia, na qual o enfoque
estará na própria consciência, e não nos erros alheios. O ideal é evitar contar
os detalhes para os melhores amigos, que com boa intenção podem alongar ainda
mais o assunto, prejudicando o desligamento.
Saneamento. Em termos de proéxis, muitas relações
são formadas numa vida intrafísica para serem resolvidas. Um bom término
pode evitar futuras interprisões, além de ser ótimo momento para, com
discernimento, realizar assistência e exercitar a compreensão e a afetividade
madura.
Família nuclear. O que foi analisado para as duplas estende-se
também aos parentes. Pode-se ter a sensação de que a família nuclear não
tem afinidade com o pesquisador, porém algum tipo de convívio é inevitável.
Esse é um exercício para testar o nível de assistencialidade e capacidade de
conviver com as diferenças. As fofocas nas reuniões de família são quase
inevitáveis, de tão instituídas, mas a conscin lúcida pode agir como desmancha-roda
de assediadores afinizados com a família e, no mínimo, permanecer neutra.
PROFILAXIA
Paradigma assistencial. Não há conscienciólogo atuante
que não tenha, em algum nível, o paradigma da assistencialidade como
premissa básica para as próprias ações neste planeta. Sendo assim, poder-se-ia
perguntar sobre a utilidade da ideia a ser transmitida. É justamente nesses momentos
de descontração, muitas vezes inconseqüentes, que se pode fazer boa análise do
gabarito evolutivo pessoal.
Técnica profilática. Uma técnica seria avaliar o
incômodo causado ao se imaginar na posição do sujeito falado em uma
roda. “Se isto fosse sobre mim, seria válido? É construtivo o que estou
falando/ escutando?”
Juízos de valor. Certamente não há como se abster de formular
opiniões, de concordar ou discordar, de interpretar e de comparar. Muito
menos deixar de estabelecer juízo de valor, mas é possível averiguar a
qualidade da fala pessoal cotidiana através de anotações exaustivas, por
exemplo, por um período de 48 horas, de todas as opiniões emitidas pelo
autopesquisador. É possível elaborar uma planilha personalizada ou criar alguns
códigos para facilitar os registros.
Técnica dos porquês. A Técnica dos Porquês
Pessoais propõe aprimorar a ortocomunicabilidade pelo
desenvolvimento da autoconsciência dos próprios porquês. “Concordo? Discordo?
Gostei? Simpatizei ou não? Sim, mas por quê?”
Internet. Qual o teor dos e-mails pessoais?
Sobre o que se conversa via net? E em chats? Essa
pode ser a unidade de medida atual para avaliar a qualidade das próprias
comunicações.
Autoconhecimento. O autoconhecimento sobre desejos,
vontades, opiniões, pode levar à autoconsciência sobre os pensenes pessoais.
Igualmente pode ser antídoto contra o assédio interconsciencial.
Intencionalidade. Bem mais fácil que controlar um
pensene é atentar para o que se fala, bastando para isto pensar duas
vezes antes de pôr o laringochacra em atividade e cultivar o hábito de
perguntar: “mas qual é a real intenção do que vou dizer?”
Abertismo. Um preconceito fica bem evidenciado nos comentários
despretensiosos das conversas informais. Prestar atenção ou anotar as
falas displicentes auxilia a detectar possíveis preconceitos, crenças e
generalizações. Após o reconhecimento, analisam-se as causas que levaram a
consciência a desenvolver o preconceito. Assim ela pode estabelecer as
diretrizes para a mudança.
Ortocomunicabilidade. Após algum tempo dessas práticas
investigativas, exercer a ortocomunicabilidade vai ficando
naturalmente mais fácil, mesmo com os apelos contrários, que estimulam as
conversas inúteis. A atenção à dimensão extrafísica pode tornar o
interessado apto a identificar quando falar e sobre o quê, quando ser
diplomático e quando se abster de opinar.
MINICONSCIENCIOGRAMA DA ORTOCOMUNICABILIDADE
Instrumento. Apresenta-se pequeno questionário para que o
pesquisador possa refletir sobre a própria forma de se comunicar
cotidianamente. Aos moldes do Conscienciograma, é possível dar notas e avaliar
os itens que necessitam de maior auto-análise. Aos que quiserem aprofundar essa
autopesquisa, sugere-se o levantamento de tudo o que falar durante 24 horas,
utilizando, como parâmetro, as 20 perguntas abaixo relacionadas:
01. Quais são meus pensenes ao
conhecer alguém?
02. Quais são meus pensenes ao
ouvir opiniões alheias?
03. Como expresso opiniões sobre
os outros?
04. Qual
é a real intencionalidade quando falo de terceiros?
05. Quais
são meus sentimentos ao criticar alguém?
06. O que
classifico como contar algo “sem importância” sobre uma terceira pessoa?
07. Em
que bases passo uma notícia adiante?
08. Como
me sinto ao falar para um grupo?
09. Quais
são meus assuntos, em geral?
10. Quanto do que eu falo é realmente prioritário?
11. Considero inofensivo emitir algumas opiniões sobre
os outros? Em que momentos?
12. Quando emito uma opinião, é para
assistir?
13. Qual é o teor de
meus e-mails, conversa em chats ou em outros programas de
relacionamento da Internet?
14. Quem são
as pessoas do meu círculo de relações mais íntimas e quais nossos assuntos
diários?
15.Sou um bom ouvinte?
16. Como
reajo perante um grupo de conscins falando de alguém ausente?
17. Tenho
consciência quando estou com necessidade de falar para obter atenção ou quando
quero falar para resolver algo?
18. Sei
colocar limites nas conversas em família nas quais os membros de várias
gerações podem estar sendo julgados?
19.Sobre o que converso com minha dupla evolutiva
diariamente?
20. Alguma
vez já realizei algum estudo sobre a qualidade das próprias manifestações
laringochacrais?
CONCLUSÃO
Casuística. A autora pesquisa há algum tempo a própria
comunicabilidade e pôde perceber que alguns dos aspectos aqui estudados
lhe dizem respeito.
Ganhos. Os ganhos nesse estudo têm sido, principalmente, a
percepção mais aguçada dos pensenes e do que é externalizado. O que
antes era considerado normal passa a ter um peso diferente após um
aprofundamento teórico aliado à disposição para a teática. Conforme se evolui,
aumenta-se a percepção do que é ser sadio e do que é ser doente.
Ambigüidade. Pode-se avaliar a ambigüidade enquanto parte
importante no estudo das origens da fofoca, pois o que a motiva tem origem
complexa e diversa. A mesma frase, dita por duas conscins diferentes,
pode ter efeito totalmente diverso.
Complexidade. As consciências possuem ideias diferentes, e trocar
experiências é atividade fundamental para todos. Nessa riqueza de diversidades,
é necessário cultivar a atenção, a auto-análise, o autoconhecimento e a
compreensão do comportamento humano no sentido de adquirir a qualidade da
imperturbabilidade, que permite assistir com maior eficácia.
Intencionalidade. O presente trabalho analisou a
inseparabilidade existente entre a intencionalidade e a qualidade dos
pensenes. Não há pensenes ou morfopensenes inócuos, pois todas as criações
individuais partem de uma intenção.
Responsabilidade. Tal fato torna as consciências
inteiramente responsáveis pelo que lhes acontece. A evolução não tem
pausa, não é possível fazer algo sem conseqüências, descompromissadamente. É
disso que dá conta quem faz um mínimo de análise dos fatos ao seu redor.
Conseqüências. Um pensene, uma fala, uma ação podem ter
conseqüências sem retorno. Muitas consciências rebelam-se contra o fato
de que são permanentemente responsáveis por tudo que fazem, como se isso fosse
um peso em suas vidas. Gostariam de “viver a vida a passeio”, sem grandes
comprometi-mentos.
Descompromisso. O descompromisso com a vida reflete-se bem nas
interações interpessoais. Há excesso de inutilidades, especialmente nas
conversas que, ao modo dos pensenes, são geradas pelos instintos, desejos,
frustrações, vontades e intenções.
Ferramenta. Por isso mesmo, pode-se utilizar as conversas
públicas e privadas enquanto úteis ferramentas para dar um salto evolutivo.
Elas espelham perfeitamente a realidade consciencial e, como tantas outras
técnicas da Conscienciologia, podem ser estudadas didaticamente e aplicadas na
condição de mais um instrumento que permite assistir com maior eficácia.
Por Flavia
Krahenhofer.
REFERÊNCIAS
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